Quem não ficou muito estressado de 2020 pra cá?
Quem não desistiu de ver TV ou vídeos no celular para não se sentir mais ameaçado?
Quem não teve medo da doença e/ou da falta de dinheiro?
Quem não se esgotou com filhos ou cônjuge?
Quem não se preocupou com os idosos da família?
Quem não sentiu saudades dos encontros, amigos, academia, rotina, passeios, viagens?
Quem não teve medo do futuro político do país?
Quem não se decepcionou com comentários agressivos sobre a situação vindo de pessoas que não esperava?
E, principalmente, quem não se decepcionou consigo mesmo, sua fragilidade, tristeza, medo, decepção, insegurança que foram maiores do que seu controle?
Dificilmente alguém não atende um dos critérios acima, não é?
Assim é e ainda será. Virão outras ondas menores, mas não menos preocupantes depois deste isolamento.
Não foi um trauma como um acidente ou assalto, um evento único. Virá muito mais depois. A crise política/financeira e social segue. O trauma segue e amplia.
Com quem pudemos contar neste período? Quais recursos tínhamos ou desenvolvemos?
O que nos faltou? Discernimento, serenidade, colocar limites? O que sequer percebemos que nos faltou, mas outras pessoas nos apontaram?
Como será ir voltando a algumas atividades e a outras não voltar nunca mais?
Do que podemos abrir mão com prazer e o que ficaremos enlutados por um tempo?
O que descobrimos sobre nós mesmos neste período atípico?
Como foi ter ficado mais tempo consigo ou com alguém?
São boas reflexões para começar. No entanto, falar consigo mesmo é girar em círculos. Quando falamos com um psicólogo, ele não somente tem uma escuta ativa, ele observa, presta atenção nos hiatos de respostas, nas respostas evasivas ou circulares, questiona, demonstra, orienta, sugere, realiza dinâmicas para trazer do pensar para o sentir, vivifica a experiência, enfim, o trauma pode ser elaborado, transformado, ressignificado de forma a se conviver o melhor possível com tudo isso.
Ficar em casa pode ter ajudado na saúde física por um período, mas certamente deixou sequelas na saúde mental em quase todos, de algum modo. Buscar ajuda com profissionais da escuta ou grandes conselheiros é uma boa forma de voltar a se encontrar consigo mesmo. Voltar a falar com aqueles amigos que nunca te abandonaram também. Você agora sabe quem são.
(Silvana Garcia)