Compreendendo a dinâmica vítima-agressor: eles são inseparáveis. Algumas uniões são belas, outras trágicas, como uma estranha forma de amor. Por trás da raiva, há amor represado que destrói a si e ao outro, um amor destruído na própria infância. Por trás da dor, há falta de amor, um amor não correspondido, interrompido quando muito pequeno. Essas crianças crescem e tal qual aprenderam, repetem a mesma história.Um ama destruindo como fizeram com ele. Outro ama se aprisionando na dor, dia após dia. Enquanto não se reconhece o amor de um casal no qual um agride e outro se deixa agredir, não há solução.
São dois agressores: um que usa a própria mão. Já o parceiro se destrói usando a mão do outro. Ambos são agressores de diferentes formas. Ambos foram vítimas na infância. Por isso se atraem. A violência de um deles é implícita, a do outro é explícita. Em geral, a da mulher é para dentro, a dele é para fora. Ela diz inconscientemente na lealdade arcaica infantil às mulheres das gerações passadas: “Como as vítimas de minha família, morro”. Ele diz: “Como os perpetradores de minha família, mato”. Se o agressor é preso, a fala dele torna-se: “Eu pago por vocês”, aí ele se torna vítima. E ela se torna agressora e diz: “Por vocês, vinguei-me”.
A cura está no resgate e reconhecimento deste amor infantil. A frase sistêmica de reconciliação destas polaridades opostas é dizer ao outro: “Somos iguais”.
Ambos vítimas do passado, ambos artífices de uma nova história.
(Silvana Garcia)