Brigitte Champetier de Ribes nos introduz a psicossomática sistêmica a partir das compreensões de Bert Hellinger e Hammer. Ambos dizem que a doença não é uma maldição, mas sim uma proposta de solução, um caminho de volta à saúde. Um movimento circular de reconciliação que pode durar gerações. A esse movimento que é a própria força da vida, Hellinger nomeou Movimento do Espírito, o amor a tudo como é.
Nas dinâmicas cegas de nossa família, excluímos elementos como se fossemos maiores que a Vida tal como ela veio até nós. E aí encontra-se o significado profundo das doenças. Tudo que excluímos, julgamos, volta a nós na forma de doenças para que possamos aceitar a Vida como é.
A doença aparece quando nos negamos a confrontar os conflitos que nosso destino nos traz. A vida é dual. A energia se produz quando partículas positivas e negativas estão em equilíbrio, quando homem e mulher se fundem num ato de amor e quando um algoz e uma vítima se reconciliam.
O movimento do Espírito leva a fusão dos opostos que ao combinarem-se, geram um força superior. A doença é uma da dinâmicas dessa reconciliação que, ao final, gera uma saúde maior, uma vida mais plena e abrangente do que antes, tanto para nosso sistema corporal, como familiar.
Para isso acontecer, precisamos olhar para além da doença em si. Ela nos aponta que alguém ou algo foi excluído. Tudo no corpo e na família tem um lugar determinado pela Hierarquia e todos são iguais em importância. Este campo no qual todos inseridos e tem o mesmo direito de Pertencimento guarda todas as memórias de vivências e emoções, de modo que cada recém chegado recebe toda bagagem amorosa ou trágica dos anteriores, numa contínua Compensação entre dar e receber. Tais são as ordens do amor descritas por Hellinger.
Quando alguém se coloca acima deste campo, rechaçando ou matando outros, a consciência familiar, como um sistema vivo, utiliza mecanismos de compensação. A doença é um deles, temida, depreciada e rechaçada tal como estes excluídos.
As plantas, animais ou seres humanos estão a serviço da sobrevivência da própria espécie, os mais jovens a serviço dos mais velhos, os vivos a serviço dos mortos e todos a serviço da Vida.
O movimento do Espírito requer o respeito a estas ordens de equilíbrio em que todos honram a seus maiores e ao próprio Espírito em si.
Quando assentimos as condições de nossa vida, esta força da Vida nos conecta diretamente com a Consciência Criadora.
Essa energia vem de fora do campo corporal ou familiar, mas também está dentro de cada um. Quando a pessoa se abre à Vida incluindo e dizendo Sim a tudo e a todos, aos conflitos e a doença como é, se abre a esta conexão com o Espírito. Neste momento, a força da cura chega até ela que se transforma num canal desta força e só isso é capaz de causar mudanças. A força de cura produz uma mutação que é integrada pelo campo e transmitida aos descendentes.
O primeiro conflito do ser humano é segurança X autonomia. Toda vez que crescemos ou nos mudamos de lugar, nos acompanha o medo de sobrevivência neste novo lugar e a culpa do que deixamos para trás.
Se conseguimos assumir tais danos, nos movemos na direção de uma Vida mais além. No entanto, se seguimos fiel a uma “Boa” Consciência de pertencer eternamente a um grupo ou lugar que nos dá segurança, em nome de um dever, de uma moral, sempre excluiremos aquilo que nomearemos como mal. Nos tornamos algozes no exato momento em que eliminamos o que nos perturba, que nada mais é que um convite ao crescimento.
Cada vez que julgamos e excluímos algo ou alguém em nome da Boa Consciência, geramos um mal, um sintoma, uma doença. Cada vez que nosso amor cego faz com que inconscientemente queiramos salvar nossos pais, carregando deles suas responsabilidades, geramos doenças hereditárias.
O corpo é a expressão do pertencimento de alguém a um sistema familiar. É o cenário da polaridade em que se vive.
Por um lado, segurança e o amor cego ao seu grupo; por outro, autonomia a serviço da Vida.
O corpo é a interface entre o indivíduo e seu sistema e revela o inconsciente, que é o Movimento do Espírito individualizado.
Qualquer desordem do sistema (emoções reprimidas, atos não assumidos, traumas não integrados) se manifesta no corpo de seus integrantes ou descendentes até sua resolução.
Há duas fases na doença, uma ativa, na qual o doente diz a um exluidor: eu sou como você, produzindo uma agressão ao corpo, na tentativa de resolver metaforicamente um conflito. Na fidelidade cega ao excluidor ou perpetrador, desencadeia-se a doença.
Atua como um movimento do Espírito, guiando a pessoa passo a passo frente a cada uma de suas fidelidades, arrogâncias e negação a vida.
Com o tempo, a pessoa pode amadurecer e resolver o conflito. Então a doença de fase ativa cessa e surge outra, de resolução.
Nesta, o doente reconhece o mal que fez na fase anterior e inicia-se a restauração de seu corpo.
Se, ao contrário, é dominado por um sentimento de culpa, própria do excluidor, seu vínculo a ele torna-se: eu pago por você. A doença torna-se crônica e redobra seus esforços para que o doente perceba que nesta expiação está perdendo sua vida.
Os traumas são nossos conflitos mais graves e só se resolvem num nível superior de compreensão e aceitação da doença, nunca no nível emocional e aprisionador do sofrimento.
Precisamos fazer o caminho de volta para antes do início da doença e integrar o que foi excluído. Nele estão as partes saudáveis perdidas por nós. O primeiro movimento de cura está em reconectar-se com a Mãe, porque ela representa a Conexão a Vida.
Depois, com o Pai que representa a Ação.
Segundo os estudos de Hamer, cada emoção se relaciona com uma parte do cérebro que rege órgãos correspondentes.
No desenvolvimento do cérebro, primeiro vieram os órgãos de sobrevivência no tronco cerebral (sistema digestivo, respiratório e reprodutor) que refletem os conflitos do que precisamos ter ou expulsar para sobreviver.
Depois, o cerebelo responsável pela proteção do corpo refletindo os conflitos de ataque, defesa ou fuga.
Posteriormente, surgiram os hemisférios cerebrais responsáveis pela estrutura e sustentação (ossos e músculos) que refletem os conflitos de auto-eficácia e valorização.
O hemisfério esquerdo regula o lado direito do corpo direito e o direito regula o lado esquerdo.
A parte direita refere-se ao presente, o pai, linhagem paterna, masculino e relacionamento entre iguais. A parte esquerda reflete o passado, a mãe, linhagem materna, feminino e relação pais-filhos.
E, por último, apareceu o o néo-cortex, o cérebro das relações, da vida em grupo e desenvolvimento pessoal.
Hellinger descreveu as ordens do amor (pertencimento, hierarquia e compensação) no sistema familiar e Hamer relacionou as doenças aos conflitos vividos durante o desenvolvimento. O corpo é um reflexo do sistema familiar, o palco em que os conflitos humanos se reencenam.
No sistema corporal ou familiar, curar significa reestabelecer a ordem, uma nova ordem que surge depois de um conflito, mais abrangente e plena do que antes.
A cura é abraçar a vida como ela é.