A maioria responde o que será mais aceito socialmente. Diz o óbvio: que tem medo, que depende dele, etc.
Tudo isso pode ser verdade, mas tem uma resposta que é mais difícil de dar.
A mulher que sofre agressão permanece porque ela gosta do homem. Ela não gosta da agressão. Ela gosta do homem. E homem também apanha muito, só que tem mais vergonha ainda de denunciar. Ele, mesmo não dependendo e não tendo medo, também fica na relação que apanha.
Pessoas que se casaram com cônjuges ricos também costumam ficar mesmo sofrendo. As agressões não são só físicas, são psicológicas (críticas, comparações, desqualificações), financeiras (ser sustentado pelo outro a vida toda), sexuais (obrigar a práticas e excesso ou negação sexual). Todas são formas de desrespeito, agressão e violência. E a submissão só aumenta de acordo com o tempo e o poder que o outro tem sobre si.
Ainda assim, o agredido fica. Por que?
Muitas mulheres ficam porque gostam do homem. Podem até ter vergonha de disso, mas ficam.
Gostar de quem nos maltrata é comum no cachorro que apanha e volta, na criança que a mãe bate ou rejeita e a criança gruda mais ainda e vai aprendendo que quem ama pode fazer de tudo e se a gente ama, tem que aguentar tudo. A pessoa fica se agarrando a um fio de esperança para crer que tudo vai mudar. Tem vergonha de reconhecer que errou. Assim fica presa numa armadilha que ela mesma se criou. Não é nada simples sair de relações abusivas porque há amor nelas. Há esperança. Há fidelidade ao próprio sistema familiar, repetindo padrões aprendidos em casa antes de se unir. Há vergonha de assumir os próprios erros e de revelar o que acontece em casa.
Ao denunciar a pessoa agredida, se ganha liberdade, mas se perde muito mais do que um casamento.
(Silvana Garcia)