São os excluídos que movem a história humana. Desde a busca de Canaã ou os ciganos que se puseram em marcha pelo mundo, saindo da Índia, possibilitando a miscigenação e evolução da espécie.
Como seria se hoje tivesse uma guerra no Brasil e nós tivéssemos que sair às pressas? Sem quase nada. Sem bens? Teríamos jóias ou dinheiro costurado nas roupas para levar? O que comeríamos em longas viagens? Teríamos água e higiene? Como levar pets e bebês? Perderíamos as crianças pequenas no meio da confusão?
Essa foi e é a vida dos imigrantes. De repente, vai-se tudo que tem, chega-se num outro lugar sem falar a língua, pobre e com hábitos muito diferentes daqueles onde chegou. Pior, sendo mal visto e escorraçado se a imprensa local já mostrava antes deles chegarem que seu grupo era perigoso. É o que passam os que fogem de seus países hoje, como foram os japoneses chegando aqui pós-guerra. Mesmo o novo local fica marcado pelos que acolheram. Os alemães fugiram em massa para Argentina e com mais dinheiro. O que vemos lá hoje? Um país deve acolher os perpetradores que se eximem de compensar seus danos? Carregará a culpa que é de outro? E um país que é “semeado” por escravos roubados? Carregará o fardo da miséria e corrupção como o Brasil?
Sinceramente, nem vendo as imagens na TV dá para imaginar. Mas foi o que muitos de nossos bisavós ou avós passaram. Carregaram na alma o medo de perder tudo e a tristeza de nunca mais voltar.
Viajar para terra dos ancestrais é fazer as pazes com um lugar cheio de marcas. Voltar de novo para nosso lar agradável é descobrir que a Canaã somos nós que criamos quando encontramos um outro lugar para sentir mais segurança. E aprendemos a ser mais gratos, tanto à terra, como à sociedade que nos acolheu, quanto aos nossos ancestrais pela força e coragem que tiveram, apesar do medo e tristeza que nos legaram pelos traumas transgeracionais.
Para se abrir ao novo, primeiro é preciso reconhecer a perda, desapegar dos bens, dos que se foram ou ficaram para trás e deixar tudo no passado, dando-lhes um bom lugar no coração.
(Silvana Garcia)