“Em NOVA YORK – O projeto Art in the Parks apresentou Medusa com a cabeça de Perseus, do artista argentino-italiano Luciano.
A escultura de bronze de mais de dois metros inverte a narrativa da Medusa, retratando-a em um momento de autodefesa sombriamente fortalecida. Na Metamorfose de Ovídio, Medusa era uma donzela no templo de Atena, que foi perseguida e estuprada por Poseidon. Atena, furiosa, expulsa e amaldiçoa Medusa com uma monstruosa cabeça de cobras e um olhar que transforma os homens em pedra. A própria Medusa é culpada e punida pelo crime de que foi vítima; ela é rejeitada como um monstro e, em seguida, com a ajuda cruel de Atena e Poseidon, é eventualmente caçada e decapitada pelo herói épico Perseu, que exibe sua cabeça como um troféu em seu escudo.
A escultura de Garbati fala diretamente com a obra-prima de bronze florentino do século 16, Perseu com a cabeça da Medusa, de Benvenuto Cellini (1545-1554). Através deste trabalho, Garbati pergunta “como pode um triunfo ser possível se você está derrotando uma vítima?”
A Medusa de Garbati fica de frente para o tribunal, como um ícone da justiça e o poder da narrativa.”
Somos gratos aos contos e mitos contados por gerações que sempre passaram a história adiante numa forma de nos abrir para a realidade dos fatos e não a história contada pelos vencedores. Mas, finalmente um artista e um projeto de museu começam a criar imagens diferentes para as gerações futuras em que a arte ajuda a ordem.
Eu bem compreendo o mito. Atena é uma mulher que diz ao marido: Seu objeto de desejo e seu abuso será transformado em um monstro (Medusa). É sua vingança, mas a punição recai sobre todos.
Perseu, o herói, ao matar Medusa a liberta de viver condenada na fúria da vítima contra os homens. Porém, a imagem que fica agora com esta estátua é como se Medusa dissesse: “Eu fico com as cobras na cabeça e com a cabeça de quem tentar vir me destruir. Eu assumo meu destino.’
Nosso destino não é o que os deuses decidem sobre nós, mas nossa atitude diante disso. Medusa agora diz: “Eu cumpro o que me cabe, mas também sou dona de meu destino.”
(Silvana Garcia)