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Nós somos o passado vivo no presente

Aprender história é sempre bom. Há fatos observáveis pelas conquistas, pelos descendentes, pelos resultados que vemos hoje. Julgar com a perspectiva de hoje o que não vivemos é sempre um perigo. 

Vivo no Estado de São Paulo. Qual a sua história? Os índios foram roubados de suas terras? Ou o líder ao perceber que não venceria os brancos uniu-se a eles para sobreviver? Bem, alguns sobreviveram. Isso é fato. Havia lutas entre os indígenas também quando os brancos aqui chegaram. Assim como na África, entre os negros. O branco veio ajudar ou tirar proveito da situação? Quem afinal, se beneficiou? Quem foi mais esperto? 

Basta olhar hoje, quem vive aqui. Muito mais filhos de imigrantes de vários países do que mamelucos, mas eles também miscigenando, sobreviveram. Não gosto de estátuas gigantescas, prefiro árvores, mas não adianta destruir monumentos a fim de “queimar” o passado sem antes aprender com ele. Pode ser que estejamos queimando a estátua de nossos “avós”. Não adianta tomar partido de acordo com nossas crenças e ideologias hoje. Não estávamos lá. Só podemos honrar o destino de tantos que sofreram despatriados para que a miscigenação gerasse a diversidade necessária para evolução e sobrevivência. Será que uma estátua, muito mais que ser vista como uma homenagem não é um livro aberto para ninguém esquecer o preço da vida? Não há heróis, nem crápulas se não existirem vítimas. Somos descendentes de quais? De todos eles. Podemos fazer diferente? Sim. Esquecer o passado? Nunca. Nós somos o passado vivo no presente. 

Não se trata de se orgulhar dos perpetradores brancos, mas de honrar os ancestrais negros que sobreviveram e passaram a vida adiante.

Não se trata de perdoar ninguém, mas principalmente de não exaltar aquele que detinha o poder da cor, do dinheiro, das insígnias para destruir o outro. Isso foi a história da humanidade. Ainda é. Só que hoje são acordos ilícitos entre pessoas de qualquer cor. Hoje e sempre há todo tipo de ameaças e subornos para alguém se manter acima dos outros. 

Trata-se de reconhecer que a uma descendente não cabe julgar, dado que ela mesmo é fruto dessa situação. E nela corre o sangue de ambos: o perpetrador branco e a vítima negra. E ela pode escolher qual prevalecerá se conhecer muito a si mesma e sua história. Quando puder não se revoltar, mas reconhecer que foi assim. E só porque foi assim, ela existe. É triste, mas é fato de que a dor da vítima vive nela. Mas também a honra e a dignidade de sobreviver e passar a vida adiante. O que ela herdou? A dor, talvez até ódio ou a honra e a força? E do perpetrador branco, o que herdou? A ferocidade ou algum talento que ele tinha? A pele mista revela que ela herdou tudo junto e misturado. E cabe a ela, com conhecimento, escolher. E cabe a todos, descendentes de brancos e negros baixarem mesmo as estátuas da hipocrisia, enterrarem o passado e construírem um futuro glorioso no qual a miscigenação seja vista como um fato, não como um fardo. 

Na Europa, muitos bisnetos da segunda Guerra são fruto de miscigenação entre povos brancos e carregam a mesma dor de ser herdeiro de muita violência. Entre povos asiáticos, ocorre o mesmo. Isso é algo da humanidade, infelizmente. Entre povos africanos, também. Na América, a questão da diferença na cor da pele causou guerras terríveis, mas isso é assim em qualquer lugar. 

Precisamos aprender hoje por que que meios alguém chega no poder e como se mantém. Aprender a não nos submeter, mas também não demonizar, nem divinizar ninguém. Aprender a ver, não a “crer”. Cada história pessoal é única. Há histórias de amor no meio de tanto horror. Exceções, é claro. Há descendentes que se tornaram grandes advogados e defendem leis mais justas. Há pessoas que se tornaram ícones de beleza, dos esportes devido a este passado miscigenado.

Gostaríamos que não fosse assim. Mas se foi, o que aprendemos? Como transformaremos isso no futuro? Estátuas do passado, em geral, escondem muitos mais segredos que imaginamos. 

(Silvana Garcia)

Silvana Garcia

Silvana Garcia

Silvana Garcia é uma das fundadoras e administradora da Essencial terapias. É psicóloga com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de São Carlos, especialização em Logoterapia e Análise Transacional, Maestria em novas constelações familiares.

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