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Não existem culpados ou inocentes. Existem responsáveis

“Imperdoável” é um filme excelente para refletirmos sobre culpa e perdão.

Tirar o conceito do nível moral e trazer para o sistêmico. Perdão desequilibra a relação. Transforma o que pede perdão de responsável em culpado arrependido. Transforma o que dá o perdão em um ser superior.

Não existem culpados e inocentes. Existem responsáveis. Pessoas adultas que erram e, se quiserem manter as relações, assumem o dano que fizeram. Seguem eretos pela vida, procurando melhorar.

Existem os que por serem crianças ou imaturos são feridos. Seguem eretos pela vida, procurando se curar e se proteger melhor.

Existe sim uma força do Perdão, mas não é algo que vem de uma pessoa e sim de uma outra dimensão. Assim como as forças do amor: pertencimento, hierarquia, equilíbrio dar e receber e assentimento. Tais forças não são humanas, apenas. Incluem toda a natureza.

Não dizemos: eu te incluo.

É ridículo, porque não sou EU que incluo. Todos já estão incluídos. A pessoa pode se incluir ou não. Pode se afastar até de sua família por um erro que cometeu com eles e perde o direito de conviver. Pode se afastar por ter sido muito ferido, mas nunca deixa de pertencer.

Alguém pode até mudar de sexo de homem para mulher e ir daqui para o Tibet, mas não deixa de pertencer ao grupo dos homens brasileiros. Essa é a sua origem. O que vem depois é sua história e sua responsabilidade por suas escolhas.

Hierarquia é o mesmo. Eu não posso escolher ser maior do que quem me precede. Eu cheguei depois e tudo que veio antes não me cabe jamais julgar, apenas aceitar como foi. Aprender com os erros dos outros porque já sei as consequências de más escolhas por causa deles. Agradeço o aprendizado tão sofrido de todos e sigo com mais opções.

O assentir é também óbvio. Não sou que assinto. Tudo já é. Eu apenas me inclino diante do mistério da vida.

Equilíbrio entre dar e receber é a força mais difícil de ser compreendida porque o salvador e a vítima sempre desequilibram e chamam isso de bondade e necessidade. Não é. É orgulho e medo. Não posso dar o que o outro, de alguma maneira, não consegue compensar de forma nenhuma, porque o diminuo.

E quando o outro me faz um dano, como compensar de forma que a relação continue, caso eu queira? É necessário a força da justiça. Não entrarei na lei de Talião do “olho por olho, dente por dente” como um vingador. Também não entrarei na presunção do moralista que perdoa porque está acima.

O perdão é divino, por assim dizer. É a máxima compaixão. Todos nós erramos e recebemos todo dia o perdão pelo “pai que sabe que nós não sabemos o que fazemos”. Somos infantis, imaturos para tantas coisas. Se não fôssemos constantemente perdoados, não tinha mais ninguém aqui. Somos crianças na escola da vida. A justiça humana é um meio da pessoa reparar o mal que fez à sociedade, mas não à vítima. Esta, ou segue morta ou com a dor de ter perdido alguém ou coisas muito importantes para ela. Como seguir adiante?

Aceitar o mistério que o uniu àquele que lhe fez um mal. Assentir. Saber que tudo e todos pertencem e se atraem por ressonância de tantas coisas que jamais saberemos. Se inclinar diante deste grande mistério. Entregar tudo a um Poder maior que este sim, inclui o Perdão. Perdão ao outro? Não somente. Perdão pelas falhas humanas. Por tudo que não sabemos e somos tomados pela força de um destino comum que nos arrasta até que possamos crescer, evoluir e fazer escolhas cada vez mais em harmonia com as forças do amor. Então um dia chegaremos a perdoar. Perdoar não ao outro, mas a nós mesmos. Perdoar a fraqueza humana, a fragilidade de nossa consciência e responsabilidade.

Estas forças do amor e tantas outras estão em semente dentro de nós como uma ética universal. Estão na natureza. Nos cabe cada vez mais desenvolve-las. E para isso servem os mestres, aqueles que, em algumas delas, estão um passo a nossa frente e nos inspiram. Tornam-se espelhos de ressonância para o que já somos em essência. Assim, copiamos os grandes mestres como crianças aprendendo a ler o livro do conhecimento sobre a Vida. Foi o fruto desta árvore que provamos, segundo os textos antigos. Conhecer tem seu preço, mas é o único caminho para liberdade.

O que nomeamos como bem e mal, certo e errado são disciplinas da escola da vida. Mudam como nós. O perdão está muito além dos julgamentos morais e legais dos homens. (Silvana Garcia)

Silvana Garcia

Silvana Garcia

Silvana Garcia é uma das fundadoras e administradora da Essencial terapias. É psicóloga com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de São Carlos, especialização em Logoterapia e Análise Transacional, Maestria em novas constelações familiares.

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