Não julgamos quem pratica um crime por desespero, loucura, ignorância.
As leis humanas, sim. Os valores morais que cada grupo tem, também.
Porém, existem outras leis. Para além das leis, existe uma ética.
Falhamos muito. Não adianta só se redimir perante a sociedade, quando for o caso, precisamos nos redimir conosco mesmo. Nos auto perdoar. Reconhecer. O que não significa que basta se arrepender e rezar que seremos perdoados ou mesmo se ficarmos na cadeia por anos.
Se cometemos um aborto, não adianta compensar adotando 20 gatos. Não funciona assim.
Quando excluímos alguém do direito à vida que este ser tem, nos ligamos por vínculos invisíveis a ele e a todos que o amavam. Interferimos numa trajetória.
Quando se inicia uma vida no útero, aquela vida não pertence àquela mãe.
Quando uma pessoa está vegetativa, aquela vida não pertence a outros seres humanos.
Qualquer ser vivo tem o direito de pertencimento. Mesmo um terrível criminoso? Sim.
Cabe às leis humanas cuidar destes casos. Com ajuda médica, com a justiça, como for.
Quando decidimos nos livrar de alguém porque nos achamos neste direito, não é Deus ou nossa consciência que irá nos condenar.
Não é sair fazendo o bem a qualquer preço para expiar a culpa ou se sujeitando a provações. Não virar o messias salvador ou o justiceiro dos oprimidos. Isso é culpa enrustida.
Não muda o passado.
Há uma ordem natural. Nos vinculamos tanto aos que amamos, sentimos por eles.
Mas nos vinculamos muito mais aos que excluímos ou matamos.
Precisamos pedir perdão sincero aos que fizemos um grande dano. Um arrependimento verdadeiro só vem com a maturidade. Precisamos nos perdoar por nossas falhas. E mudar. Transformar-se em um ser humano melhor.
Dizer a quem quiser ouvir sobre nossa experiência. Sem vergonhas, sem segredos eternos.
Não adianta sermos perdoados, é o trabalho de auto perdão que conta.
Compreender que só este perdão a si mesmo pleno de misericórdia para conosco mesmo é que liberta aquela pessoa a qual fizemos um dano de nossa dor. Reconhecer que a dor dela é maior que a nossa.
(Silvana Garcia)