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Mal e bem

“Um homem sábio, em seus conflitos internos, chegou à conclusão de que dentro dele haviam dois cães, um que era bom e dócil e, outro que era mal e cruel. Ambos brigavam constantemente. Certo dia, perguntaram ao sábio qual dos dois animais venceria a batalha, então, ele parou, refletiu e respondeu: AQUELE A QUEM EU ALIMENTAR.

Como alimentamos nosso lado cruel nos deixando arrastar pela ira, indignação? Quando julgamos algo como mal e o atacamos e excluímos.

Os tiranos nascem assim ou se tornam cada vez piores?

Se pegarmos o tirano Hitler e seus oficiais, quem tinha as mãos mais sujas de sangue? O líder é o psicopata que fica famoso, mas quem executa? O que se deixa influenciar, pois assim dá vazão à sua perversidade.

Se olhamos a história de cada um, vemos a tragédia anunciada. Hitler, por exemplo, aparece num contexto de um povo que tinha sido destruído após a primeira guerra. A Alemanha foi a última a se constituir como nação, por volta de 1870. Antes já era muito atacada. Nasce numa família cuja mãe chamava o esposo de tio e teve dois filhos antes dele que morreram de difteria mais um que nasceu e morreu com um problema no cérebro. Quem foi o menino que se tornou o psicopata cruel? Quem ele queria extirpar: ricos judeus e ficar com o dinheiro deles e gays, ciganos para “limpar” o mundo? Não só convenceu muitos incautos como deu poder a muitos perversos. Todos na sua “boa consciência” faziam o “bem”.

Se ouvimos a história do Brasil contada por Portugal, eles não se acham exploradores da Colônia Brasil. Eles têm estátuas de seus desbravadores por todo país. Os índios mortos, as índias estupradas não tem estátuas por aqui. Mas nós só vivemos aqui por causa destes desbravadores e índios destruídos.

Na Ucrânia, só em 2017 a última estátua do “herói” Lênin foi derrubada.

Vários destes chamados monstros foram levados à justiça. Alguns condenados. Outros morreram vovôs com seus queridos netinhos sem que ninguém soubesse seus crimes!

E os traços da passagem destas pessoas pelo mundo? Como é a Alemanha hoje e como vivem os judeus? Muitos muito ricos. Para alguns a guerra foi um excelente negócio. Olhem a Suíça que ficou com os bens de tantos judeus mortos. Financiaram pesquisas caríssimas na área da física com dinheiro daqueles cujos descendentes não reivindicaram seus bens. Quantos no mundo recebem bolsas de pesquisas hoje graças a este dinheiro?

As mulheres conseguiram mais liberdade após a guerra por ter que ir trabalhar nas fábricas enquanto os homens morriam às levas no front.

Ou seja, todos nós, de alguma forma, nos beneficiamos de tantas desgraças.

Sobre os governos anteriores no Brasil, desde a queda do golpe em Dom Pedro II, da política café com leite, da morte de Getúlio, do golpe militar, da morte de Tancredo, da queda de Collor, Dilma, qualquer presidente até hoje deixou pessoas em situação melhor, outras pior. O mesmo com Lula e Bolsonaro. Cada um beneficia mais uma camada da população. Qualquer líder para alguns é o “papai do céu”, para outros o “coisa ruim”.

E muitos, só com o tempo foram valorizados ou denunciados.

Como teria sido um mundo sem guerras? Tanto desenvolvimento só ocorreu por causa de guerras. Povos se protegendo e atacando quem os ameaçava. Desde a pré-história. Houve um tempo com poucos humanos pela terra, com comida farta e longas distâncias. Dizem que viviam em grupos de 12 e, de vez em quando, se cruzavam com outros grupos próximos. Crianças e mulheres ajudavam os machos caçadores a matar grandes animais. Quando eles diminuíram, a inteligência teve que se desenvolver mais e inventaram lanças para caçar animais menores e ligeiros. Os velhos já ficavam para trás e não tinham nem 40 anos. Não precisavam disputar terras, nem alimentos. Eram felizes? Depois começaram a plantar e veio a questão da propriedade de boas terras e luta para defende-las. Se uniam apenas para se proteger. Os que os atacavam vinham de regiões menos favorecidas. O agressor era só um faminto.

E hoje, quem é o mal? O faminto nem arma tem. Os perversos continuam buscando líderes psicopatas para dar vazão a seu fel. A sociedade continua alimentando qual cão com seu comportamento?

Líderes pacifistas também entraram para história. Qual foi o legado deles? Para alguns indianos, os colonizadores ingleses foram um bom negócio. Para outros, Gandhi foi um herói.

Será que devemos dedicar tempo e energia apoiando ou combatendo líderes?

Cada qual tem uma história que explica os seus porquês. Somos que tipo de líderes na vida, na casa, no trabalho? Qual cão alimentamos com nossos comentários?

Se aceito morar neste país, cuja democracia elegeu seu líder, que direito tenho de querer derrubar porque fiquei no grupo que não é o privilegiado da vez?

Se alguém pudesse matar Hitler ao nascer, não sabemos se teria salvo milhões ou se prejudicaria o desenvolvimento tecnológico pós guerra que ajudou tantos. Só sabemos que esta pessoa seria um assassino. Se derrubamos um presidente porque o nomeamos como mal, a quantos prejudicamos? Quem se torna o mal neste momento?

Até um vírus que matou tantos promoveu a união de cientistas do mundo todo que salvarão tantos mais com o tempo.

Sobre o destino de quem quer que seja não temos o menor controle, sobre nossa decisão de qual cão alimentar, todo controle.

Tenho bisavós da Alemanha e avós da Espanha e Itália que saíram após a primeira guerra. Que sorte a minha que não alimentaram o cão da guerra e não ficaram para ver a segunda. Espero que meus descendentes digam o mesmo de mim: que bom que nossa avó se mandou quando viu que estavam alimentando o cão da morte a tempo.

Não acredito em deuses e demônios, mas se uma pessoa quer atacar alguém pela razão que for, já sei que na sua história há dor e crueldade. Me afasto, por segurança. Eu escolho não atacar ninguém, nem por comida. Se precisar lutar com alguém, a vida já acabou, estou alimentando o cão errado.

(Silvana Garcia)

Silvana Garcia

Silvana Garcia

Silvana Garcia é uma das fundadoras e administradora da Essencial terapias. É psicóloga com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de São Carlos, especialização em Logoterapia e Análise Transacional, Maestria em novas constelações familiares.

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