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Estamos fadados a nos tornar quem excluímos

Disse alguém: “… meu pai era um órfão do Holocausto, uma figura de fragilidade e vulnerabilidade masculina. Continuo vivendo entre duas masculinidades: sou branco, burguês e heterossexual, mas também um homem angustiado, um intelectual e um judeu, o que me conecta com modelos masculinos degradados. Quando eu era adolescente, isso me fazia sofrer. Agora acho que foi uma sorte.”

Por ter vivido a opressão e exclusão desde seus avós, judeus poloneses exterminados em Auschswitz, consegue ver um caminho para a nova masculinidade compreendendo o sofrimento da exclusão das mulheres.

A escravidão teve seus líderes entre eles, mas houve os brancos que lutaram contra brancos para acabar com aquilo. O mesmo se dará agora, as mulheres têm suas líderes e os homens começam a apoia-las quando se vêm tão subjugados quanto elas. 

A exclusão sentida na própria pele permite sentir a dor do outro. Pessoas da pele escura, sexo, etnias menos privilegiadas precisam levantar a voz, um dia, aqueles que os excluíram se verão neste mesmo lugar, então o apoio vem e, finalmente, começam os passos em direção à igualdade.

Estamos fadados a nos tornar todo aquele que excluímos. Isso não é karma, nem maldição, é simplesmente um reequilíbrio natural da vida. E quando isso acontece, frequentemente, quem dá a mão para ajudar? Aquele que havia primeiro sido excluído.

Cada “herói” é fruto de seu tempo. Algo bom a alguém, qualquer um deles fez. O problema é que tudo muda o tempo todo. Nenhum é Deus. É adorado por uns e odiado pelos seus “inimigos”. Comportamentos geram consequências sempre. Qualquer um de nós que idolatre alguém, fatalmente irá se decepcionar. 

O mesmo é válido para anti-heróis. Eles são eleitos para serem odiados por algum comportamento que também atrai seguidores e inimigos. Sem eles, não há heróis. 

Psicologicamente, há uma busca inconsciente do pai nos amados ou odiados. Mesmo o “Pai nosso que está no céu” pode ser a substituição de um pai que não está na terra. 

Sistemicamente, provavelmente o amado ou odiado é a forma de incluir os próprios ancestrais que foram vitimizados ou que vitimizaram outros, bem como suas vítimas.

Portanto, o que se vê no outro é só uma projeção de si mesmo. Não tem nada a ver com o outro.

Pessoas que ridicularizam o outro se acham superiores, acreditam que sabem tudo e olham o diferente com desprezo, agem como deuses.

Pessoas que adoram o outro, se colocam como servos, pequenos, agem como crianças e vítimas que precisam de um líder.

Um ser humano é exatamente como outro. Cheio de qualidades e defeitos.

É bom ter cuidado com aquele que rejeitamos. Ele pertence e vai nos assombrar como um fantasma até que o vejamos, respeitemos seu destino e nos afastemos. Negar, odiar é se revelar. 

(Silvana Garcia)

Silvana Garcia

Silvana Garcia

Silvana Garcia é uma das fundadoras e administradora da Essencial terapias. É psicóloga com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de São Carlos, especialização em Logoterapia e Análise Transacional, Maestria em novas constelações familiares.

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