Cada vez que percebemos muito sofrimento na nossa vida, estamos à beira de um salto “quântico” evolutivo.
O que faz com que não aproveitemos a explosão para expandir?
Quando nos retraímos, tentamos impedir, resistir ou fugir.
Querer manter a pseudo ordem que havia em nossa vida antes e que chamávamos felicidade. Ou, mesmo ao contrário, estava ruim, mas era um ruim conhecido então sentíamos que tínhamos um certo controle sobre nossa vida.
O novo pode ser sempre assustador.
Não aprendemos ainda que do caos emerge uma nova ordem. O caos precisa chegar no seu limite para explodir num novo big bang.
Do auge da escuridão da noite, surge o sol no céu.
Do buraco negro que tudo tragou, o arroto explodirá como um parto resultando em uma nuvem de gás repleta de novas estrelas.
Para ocorrer a explosão precisa de um choque de polaridades em oposição e confronto.
Às vezes estamos vivendo esta polaridade no nível individual, outras no coletivo.
Em nenhuma delas temos escolha.
No nível individual podemos até enrolar ao máximo, mas a explosão virá. A torre que construímos haverá de cair. Sorte nossa se já estivermos fora dela, assistindo. Sabendo que em outro lugar de outro modo reiniciaremos nossa vida, quiçá mais sábios e mais humildes.
No nível coletivo que estamos vivendo agora, não tem como estar fora da torre. Na maioria das vezes, sequer colocamos um tijolo ali. Somos tomados pela avalanche, outros estão muito presos ainda e assistiremos impotentes o sacrifício destes.
Somente um olhar de total rendição e compaixão nos será possível ter.
E se nos cabe assistir a isso, o que mais podemos fazer?
Agradecer.
Agradecer aos que foram sacrificados.
Agradecer que seguiremos vivos.
Agradecer que ainda nos cabe cumprir alguma missão nesta dimensão.
Agradecer a tudo como foi e como foi necessário que assim fosse.
Agradecer a vida e a força da Vida que segue suas ordens na certeza de que todas são ordens do amor.
Um amor muito maior que nossos mundanos desejos.
Um amor a serviço da contínua evolução.
De salto em salto, ora explodimos, ora fluímos, ora pousamos em novos territórios.
Gracias a la vida !
“Agradeço à Vida
Agradeço à vida, que tem me dado tanto
Me deu dois olhos, que quando os abro
Distingo perfeitamente o preto do branco
E no alto céu, seu fundo estrelado
E nas multidões, o homem que eu amo
Agradeço à vida, que tem me dado tanto
Me deu o ouvido, que com todo seu tamanho
Grava dia e noite, grilos e canários
Martelos, turbinas, latidos, aguaceiros
E a voz tão terna do meu bem-amado
Agradeço à vida, que tem me dado tanto
Me deu os sons e o alfabeto
E com ele, as palavras que eu penso e declaro
Mãe, amigo, irmão, e luz iluminando
O caminho da alma de quem estou amando
Agradeço à vida, que tem me dado tanto
Me deu a marcha de meus pés cansados
Com eles, atravessei cidades e poças
Praias e desertos, montanhas e planícies
E sua casa, sua rua e seu quintal
Agradeço à vida, que tem me dado tanto
Me deu o coração, que perde o compasso
Quando olho o fruto do cérebro humano
Quando olho o bom tão longe do mal
Quando olho o fundo de seus olhos claros
Agradeço à vida, que tem me dado tanto
Me deu o riso e me deu o pranto
Assim eu distingo fortuna de falência
Os dois materiais que formam meu canto
E o canto de vocês que é o mesmo canto
E o canto de todos que é meu próprio canto
Agradeço à vida
(Violeta Parra)”