Dar ao outro o que ele pode conseguir por si mesmo não é dar. É tirar. Tirar a dignidade, o esforço e a liberdade de escolha do outro de querer conseguir ou não.
Receber sem esforço próprio desencadeia indolência, inveja e raiva.
Dar demais implica em desrespeito ao grande equilíbrio da natureza.
A natureza é abundante, não acumuladora.
Só dá demais quem tem demais. Este não é um doador, é um investidor. Espera uma troca que o outro fica obrigado a corresponder.
Para o que recebeu, como já começou ganhando demais, fica endividado e, muitas vezes, dirá que sequer pediu, acusando o doador de ter dado demais porque quis.
Como já não fazia por si mesmo, não fará pelo outro também.
Dar demais tem a ver com orgulho, arrogância e cobrança. Desequilibra a vida como é e os outros como são. Desrespeita o diferente de si, aquele que escolhe não fazer nada e tem todo direito de ser assim.
Receber demais é gula. Querer que o mundo ou o outro lhe pague por seu destino de ter nascido com pouco ou não ter aprendido a conquistar, valorizar e manter por si mesmo.
Dar e tomar são virtudes de generosidade e humildade quando são na justa medida em que ambos se responsabilizam pelos seus atos.
Dar demais é roubar e desrespeitar o outro. Receber sem responsabilidade pelo que toma é usurpar.
(Silvana Garcia)