A criança continua sendo ”vítima da mãe” quando já adulta identifica que sua mãe era narcisista e que a manipulava emocionalmente desqualificando-a ou a chamando de ingrata. A mãe é a ”desequilibrada”. Na visão sistêmica, a filha é um elo de uma cadeia de gerações de mulheres que estão fora de seu lugar, portanto nenhuma foi, de fato, mãe.
A mãe que superprotege o filho homem em detrimento da filha mulher não é mãe de nenhum filho. O filho homem também é destruído psiquicamente por uma mãe assim. E essa filha se tornará “mãe” da mãe, mais tarde. E uma mãe bem difícil. Assim, não há vítimas e algozes. Todos são ”crianças” fiéis ao seu sistema familiar, inocentemente seguindo os padrões aprendidos e culpando a mãe, os irmãos, o pai ausente, etc. Como solução, no máximo, conseguem se afastar cheios de raiva e culpa. Isso depois de anos de terapia.
Devemos gratidão a Sigmund Freud porque avançou muito o conhecimento da época. Mas, tudo evolui. E aí vieram Virgínia Satir, Eric Berne e Bert Hellinger na trilha aberta por Freud e viram que o buraco era mais para trás. E que deveria ter outra forma de olhar para além dos traumas com a mãe.
Sim, às vezes, a melhor solução é se afastar de uma mãe difícil, mas só se interrompe o ciclo se tomar a mãe no coração. Tomar é muito mais que amar, é aceitar que aquela mãe é a perfeita para nós, que não mudamos o que passou, mas reeditamos nosso destino cada vez que amamos mais, ampliamos mais, liberamos mais os pais de nossas frustrações e nossos filhos desta dor transgeracional. Nos afastamos por amor. Ou nos colocamos como filhos, de forma que o que aquela mãe fez ou ainda faz não nos afeta mais porque, enfim, vemos a corrente toda e sabemos que ela não consegue nos ver como filhos, portanto não é conosco que ela está falando.
Desenvolvemos uma profunda compaixão por todas as mulheres de nosso sistema até, possivelmente, aquela que teve seu filho arrancado dos braços, seu corpo violentado, sua vida destruída e descobrimos que aquela mãe só precisava ser amada. E, no nosso coração, a amamos e nos inclinamos profundamente ante seu destino e de todas as outras mães, inclusive a nossa. Nos vemos apenas como mulheres.
Olhamos depois para os homens e fazemos a mesma descoberta. Em geral, homens que foram filhos sem mãe, nem pai, cheios de sofrimento e dor. Como exigir a perfeição destes pais?