Existiu um tempo em que alguns escravizavam outros.
Existe ainda.
Existiram muitos que se sentiam superiores a outros.
Existem ainda.
E falam assim:
“Eu sou mais inteligente que todos estúpidos ao meu redor.”
“Somente meu modo de pensar e ver o mundo está correto.”
“Sou uma espécie superior porque salvo a natureza. Defendo o direito de mulheres matarem os filhos que geram. Defendo o direito das pessoas mudarem a língua, as leis, os corpos porque eu acho que é o certo. E só o que penso é o certo. E tudo que existiu antes de mim não prestou. Danem-se códigos civis, éticos e religiosos. Isso era para um mundo de selvagens. Eu não preciso disso, pois já nasci evoluído no puro amor.”
Eu e todos déspotas da história, pelo visto.
Todos como eu, plenos de razões.
Quem sou eu?
Eu sou o outro.
E você?
Aquele que se cala quando deveria dizer:
“Chega!
Escravidão nunca mais! Gritem, corram, escondam-se! Fujam!”
Hoje, seguimos escravos de informações rápidas, de ter que saber, falar e fazer o que o outro nos diz que devemos.
De nossos medos, de nossos erros, de todo mundo.
Vencemos a escravidão?
Multidões ainda vivem espancadas e presas literalmente.
Tantos são calados e mortos.
Outros tantos ainda ganham vendendo seres vivos de todas espécies, inclusive a nossa.
E a maioria segue sem querer saber. Um clique no celular dá um estímulo tão rápido quanto uma droga potente e anestesia qualquer sofrimento. Acalmam crianças com esta droga desde um ano de idade. Não podemos estranhar que o cérebro e o comportamento delas já esteja atrofiado antes de entrar na escola. Aliás elas já conhecem a escola quase antes de reconhecer o pai.
Os estímulos externos já superaram os afetivos muitos anos atrás.
Há quase uma geração inteira que parece alienada, inexpressiva, apática e que se acha o máximo hoje em dia.
Assustador!
Escravidão nunca foi tão atual.
Não precisam mais roubar e torturar pessoas. Basta dar a elas um aparelho que deveria ser tão útil, porém utilizado de forma tão danosa.
Enquanto seguirmos vazios de sentido seremos sempre vítimas de qualquer coisa que nos distraia e domine.
É como se alguém muito esperto soubesse mais sobre nosso cérebro que nós mesmos e simplesmente apertasse os botões que acionam nossos vazios.
Seguimos escravos de fazer parte de grupos “cool and cult” que se baseiam na certeza de que são melhores que outros.
Este filme abaixo mostra o que libertou Harriet da escravidão.
Coragem, ajudas silenciosas e fé.
Quem deu início a sua fuga e a tudo que ela inspirou e se tornou? Seus próprios algozes.
Devemos sim agradecê-los, não os repudiar.
Todos que tentam nos escravizar são apenas estímulos.
É a resposta que damos a eles que nos torna livres.
A real escravidão segue apenas naquele que se acha superior. Este é um escravo de si mesmo.
(Silvana Garcia)